segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A mediocridade, a quem serve...

Há dois fatos indiscutíveis na atualidade. O primeiro é a constatação do enorme avanço tecnológico, que tem facilitado a vida de milhões de pessoas. O segundo é a superficialização de idéias e sentimentos de outros tantos milhões de pessoas. É provável que haja correlação entre ambos, pois crescem na mesma proporção e velocidade. Isso quer dizer que já se configuram entrelaçados na mentalidade predominante em quase todo o planeta.
Mas se a vantagem do avanço tecnológico é indiscutível, quais seriam as vantagens da superficialização dos seres humanos, ou melhor, a quem serve?
A resposta começa a se desenhar quando verificamos que houve uma mudança de foco com o desprestígio do valor do trabalho e da educação de qualidade. Estes caracterizavam e davam direção à vida dos indivíduos, quando eram vistos como cidadãos, ou mesmo a caminho da cidadania, trajeto que vislumbrava várias conquistas sociais possíveis. Era a idéia do bem-estar social.
Nos últimos anos a idéia do sujeito-cidadão migrou para o conceito de objeto consumidor. Muitas pessoas não percebem, ainda, a diferença -como sempre útil a dominação- quando são tratadas como consumidores e não como cidadãos. Em outras palavras, vale mais quem tem e menos quem é; distanciando o valor entre o ter e o ser. As sociedades alinhadas na perspectiva da globalização, plugadas na tecnologia e no consumismo abandonaram, definitivamente, a perspectiva de educarem seres humanos para serem pessoas melhores. Verifica-se, então, a fetichização de objetos e tecnologias em grande escala e, para isso, o advento do marketing foi decisivo!
É claro que as sociedades sempre precisaram cuidar da escolarização de boa parcela de sua população, aliás, ainda quem cuida mais ( ensino técnico e mesmo não-humanístico ) ascende a melhores postos no mundo do trabalho, ganha melhor e... gasta mais! É por interesses mercadológicos que um portador de mente consumista, pouco crítico e nada interessado na cultura tende a ser desejável pelos poderosos segmentos econômico-finaceiros. Um adulto com mente infantilizada é mais competitivo, imitativo e invejoso. Eis aí um terreno tal qual o "diabo gosta", travestido com a aparência de modernidade, de avanço.
Outro aspecto que se apresenta é que, sob a enorme diversidade de desejos de consumo, instalou-se uma ideologia única. Houve também o controle de sentimentos medianos, possíveis de serem constatados, quando milhões de pessoas assistem, em tempo real, pela TV um acontecimento no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo e respondem com um mesmo pensamento básico, superficial, desinformado e, pasmem, geralmente respondem com as emoções mais superficiais possíveis. Qualquer profundidade passou a incomodar a maioria das pessoas.
A ideologia dominante proporciona uma avaliação rápida e quase igual de milhões de pessoas que atuam com os mesmos conceitos de certo/errado. Dificilmente poderiam aprofundar o que seria justo ou injusto. Neste ponto esbarramos com as limitações das informações padronizadas que chegam e com o desinteresse do telespectador pela verdade. Qualquer "explicação" ou "resposta" serve!
Convém apontarmos o poder dos meios de comunicação e principalmente da TV nisso tudo. Os jornais, por exemplo, salvo raras exceções, não aprofundam a notícia, não pesquisam a fonte nem se interessam por questões mais importantes. A TV, por sua vez, usa as notícias dos jornais (fornecidas pelas grandes agências internacionais) e tornam mais superficiais ainda o que filtraram dos jornais e... assim sucessivamente.
Tudo fica muito igual e igualmente superficial. O espectador-consumidor, em geral, agradece esse teor jornalístico, porque não precisa pensar, ou melhor, acha ser doutor em modernidade. No que se refere ao entretenimento, a TV não precisa de jornais. Ela mesma faz suas besteiras sozinhas. Torna tudo igual e de péssima qualidade!
O lamentável é que para um país como o nosso a TV é um núcleo pedagógico impressionante. Atentem para como atua sobre nossas crianças, transformando-as em sujeitos de pressão sobre seus pais, fazendo valer seus desejos autoritariamente. Imaginem seus filhos recebendo aulas brilhantes com os "educadores" da Globo, SBT e com os religiosos de outros canais. Certamente complementarão seu aprendizado como políticos que, quais vampiros, já estão a correr atrás de seus pais, todos versados em artimanhas eleitoreiras. O mais dramático é que a imensa maioria dos adultos abre largos sorrisos ou vira as costas a tudo isso.
Caros leitores, quando interesses mesquinhos predominam numa nação e quanto mais alienados forem seus partícipes, longe estaremos de nossa essência humanística. Quanto à TV, ao transmitir a todos um conteúdo contraditório de distração, informação e tradição cultural, utiliza-se de espaço público como se fosse propriedade privada, onde cada vez mais, os setores lúcidos de suas organizações perdem a força que precisam para promover mudanças saudáveis.
Se a mediocridade agrada a "gregos e troianos", dando a falsa idéia de hegemonia cultural, embora dominante, saibam que ficamos como Dante que, na "Divina Comédia", nos alerta que é possível começar a criar melhores espaços mesmo dentro do Inferno.

Texto de: Demerval Corrêa de Andrade - diretor-presidente do Instituto Argumentos-Ciência e Cultura, formulador da Psicologia da Ideologia. É psicólogo e escritor.

Concordar com esse texto é irremediável! Por mais que você se considere parte da população alienada, não há como negar sua participação consciente dessas constatações.

Por: Expectro televisivo...

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, pensei que você que tinha escrito tudo isso, e comecei a ver um brilho jornalístico nessa mente.

E não é que foi um jornalísta que escreveu.

Bom quanto as idéias, por eu pensar assim é até monótono ficar lendo, mas é isso aí todos deveriam dar mais atenção a esse mundo louco.

Anônimo disse...

Jornalista?

Eu não escrevi aquilo...